domingo, 9 de novembro de 2008

UM NADICA DE NADA...


Tento escrever, o vazio de mim,
Freima, inércia, foge de mim o alento!
A inconstância é este mar sem fim,
A confusão instalada como sentimento.

Há muito não escrevo, tudo me amua,
Fui tolhido, as musas de mim esquecidas,
Foram todas, pra face oculta da lua,
O mar do nada, vozes esmaecidas.

Mas de repente uma voz se salienta,
Num ouvido mouco, sensível ao amor,
É a Efigênia! A fada que amansa a tormenta,
E revela a carta náutica, a um cego navegador.

Entre ondas, no marasmo, espuma da vida,
Escuto a sereia, no seu canto sereno,
Acordo a vontade quase adormecida,
Parto pro amor profundo e pleno.

Tiro da minha face esta velha mascara,
Jogo-a no monturo das coisas passadas
Quero purgar o mal pela sagrada cascara,
E só lembrar das coisas belas e amadas.

Enfuno as velas, vou de peito aberto
Na popa do barco panos balançando,
Quero me alhear de qualquer deserto,
Se faltar o vento, sigo e vou remando.

E no mar aberto vou soltar ao vento
Esta percepção de um amor ousado,
Quero sentir a brisa do teu barlavento
No meu peito carente e encandeado.

Manuel Jorge Monteiro de Lima
Alphaville
Terça de carnaval de 2008

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