domingo, 16 de novembro de 2008

MENINOS DE RUA

Crianças sofridas, quanto tormento!
Tênue esperança, implacável sementeiro
De crianças sem teto, sem lar, ao relento.
A cola de sapateiro, um vicio como alimento.

Vegetam, perambulam pela vida ausente,
Ocaso do destino, quando algum traficante
Serve um primeiro alucinógeno de presente
Na escola do crime, do maldito meliante.

A sociedade passiva. O governo em águas
Caudalosas, prestigioso leito de mar corrupto,
Na paisagem os desassistidos, entre mágoas,
Fome, miséria, drogas, estupro, depois o luto.

Espectadores passivos! Alhures, esperanças,
Inaptos, sentimos a ausência da vontade
De proteger, educar, as desamparadas crianças.
Fome zero? Nefasto e vil ato de caridade...

O grito de desespero ecoa impotente.
Não bastam rezas, nem bastam novenas.
Deus... Por que esse voto deprimente
Que elege néscios, travestidos de mecenas?

E no alto da cruz, de espinhos malsãos
Jesus espia crianças, ao léu, ao relento,
Também condenados por um lavar de mãos
De insensato político, vil e truculento.


Manuel Jorge
Alphaville
Novembro de 2008

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