sexta-feira, 21 de novembro de 2008

COISA LINDA QUE PASSA...


Menina de olhar dengoso
Que passa com sedosa graça
A luz no semblante mimoso
Visto através da vidraça.

Nem o fosco da janela
É capaz de impedir
A percepção do andar dela
Num passinho de ir e vir.

Seu caminhar na calçada
Inspira melosas olhadas,
Amorosamente ilustrada
Num canto, conto de fadas.

Em sonho, sou Príncipe, o Belo
De pé a pé procurei
Efêmera procura, nada achei.
Acordo e ponho o pé no chinelo.


Manuel Jorge
Madrugada 04 de abril de 2005

domingo, 16 de novembro de 2008

MENINOS DE RUA

Crianças sofridas, quanto tormento!
Tênue esperança, implacável sementeiro
De crianças sem teto, sem lar, ao relento.
A cola de sapateiro, um vicio como alimento.

Vegetam, perambulam pela vida ausente,
Ocaso do destino, quando algum traficante
Serve um primeiro alucinógeno de presente
Na escola do crime, do maldito meliante.

A sociedade passiva. O governo em águas
Caudalosas, prestigioso leito de mar corrupto,
Na paisagem os desassistidos, entre mágoas,
Fome, miséria, drogas, estupro, depois o luto.

Espectadores passivos! Alhures, esperanças,
Inaptos, sentimos a ausência da vontade
De proteger, educar, as desamparadas crianças.
Fome zero? Nefasto e vil ato de caridade...

O grito de desespero ecoa impotente.
Não bastam rezas, nem bastam novenas.
Deus... Por que esse voto deprimente
Que elege néscios, travestidos de mecenas?

E no alto da cruz, de espinhos malsãos
Jesus espia crianças, ao léu, ao relento,
Também condenados por um lavar de mãos
De insensato político, vil e truculento.


Manuel Jorge
Alphaville
Novembro de 2008

sábado, 15 de novembro de 2008

LUA


Foste sempre a musa, a enamorada,
Dos bardos, dos cantos e das paixões.
Destilas eflúvios de amor, e ritmados bordões,
Da essência e eterna poesia, da madrugada.
Vasculho o céu pra dizer-te algo diferente
OH Lua sempiterna, gravitas num idílio
Com a terra, em eficiente concílio,
Opostas vias, casamento permanente.

É meu desejo dar ênfase a este poema,
Num canto, que canto em doce enleio
Projeto de amor, o brocado do tema,
Singela busca, adusta, que gera anseio,
Oculta neste Ser, quase sempre amando
Coração palpitante como estrela a pulsar
Tal candeia velha, de luz bruxuleando.

O prefácio está neste peito e mais o canto,
E tu Lua! Não esperavas que te perguntasse,
Da minha interrogação, deste meu espanto,
Por que me escondes a tua outra face?
Na penumbra, Oh Lua ilumina e me faculta
Quero-te nua e desvendar este teu segredo,
Quero entender os teus relevos, de manhã cedo.
Por que escondes a outra face, sempre oculta?


Manuel Jorge
Alphaville

PRECE


Oh meu Deus e Senhor, a Teu juízo,
Ensina a este teu filho a alegria da paz!
Necessito provar-te que sou capaz,
De fazer na terra, um Céu, um Paraíso.

Quero praticar, num ritual de harmonia,
Quero orar e curar os tantos sofredores
Que não adquirem saúde pelos doutores,
Quero ensinar-lhes a orar no dia a dia.

Afastar de nossas vidas as negligências
As vis tristezas, angústias, as doenças
Quero levar a fé, a alegria de vossas crenças
VÓS Sois a própria paz, as indulgências.

Façamos à moda antiga, doemos bênçãos,
Com respeito, amor, devoção, e sigam
Impondo as mãos sobre as cabeças e digam
DEUS te abençoe! Eis a cura pela imposição de mãos.

Manuel Jorge
Alphaville

domingo, 9 de novembro de 2008

PASTOR...


Pastor, a virtude de ser,
De rebanhos, não de almas,
Só de ovelhas, calmas,
Entre arbustos do saber.

Pastor de ovelhas abstraído,
A ler fragmentos no infinito,
Enquanto o rebanho circunscrito,
Murmura, a sinfonia do balido.

No silencio, sua alma procura,
Beber das verdades do universo,
Para além do falso, e do controverso,
Ler pelas estrelas, sábia escritura

O crepúsculo, o orvalho, o espelho estelar,
As águas deslizam, os sons, os ruídos,
Os mansos rebanhos já estão recolhidos,
E também os pastores foram-se deitar.

Recolhidos em sonos e sonhos rupestres,
Dias melancólicos, no pasto, nos montes,
Na roca da vida, os fios são pontes,
Pro jardim do Éden, de frutos silvestres.

Manuel Jorge Monteiro de Lima

SONHAR


O sono palco dos meus sonhos,
Revelação de anseios, frustrações,
Entre medos e momentos risonhos,
Regato das minhas emoções.

Tal um rio, serpenteando
Rumo ao mar, o eu infinito,
Barco de papel, num memorando,
Da vida, vivida, tudo escrito.

Hieróglifos, rabiscos, o descrever
As escarpas que desgastam,
A pedra bruta do meu Ser,
No campo onde os pecados pastam.

Durmo, sonho quase desperto
Enevoado, relevando a fantasia,
de ter perambulado no deserto,
de uma escassa vida, vazia.

Manuel Jorge
Alphaville, 27 de outubro de 2006

FALA COM DEUS, EFIGÊNIA

Que fruto nesse seu verso colhi,
A sua crença no nosso Deus Unigênito,
Como a minha, de amor congênito,
Fortalecido na medida em que cresci.

Embebido nesta amorosa devoção,
Verificando par e passo a verdade,
Com livre arbítrio, com liberdade,
No peito, o Artífice da criação.

Fazei, Ó meu Deus, Senhor Glorificado,
Que eu consiga carregar a minha Cruz,
E fazer dela a ponte, do Paraíso que seduz,
Quando precisar atravessar pro outro lado.

Manuel Jorge Monteiro de Lima
4.01.2007

LOUCO? POETA?


Debaixo do cabelo branco,
Tanto de louco, demência pura,
A quem não me ama, amo tanto,
Coração poeta, canto a loucura.

Desiludido vou à caça,
Por amor padeço tanto,
Por louco até acho graça,
A loucura do meu canto.

Meu coração um sacrário
Para guardar a lembrança
Oração pro meu rosário,
Meu rosário de esperança.

Destes versos de loucura
Pelos gritos fiquei rouco
Sem sentido, vida dura
Poeta? ou muito louco.

Manuel Jorge Monteiro de Lima

MÁSCARA MULTIFACETADA


A máscara, a nossa aparência,
Esconde a verdadeira expressão,
Para por outra em evidência,
Simulacro, a outra face da razão.

Por trás esta máscara oculta
A tez da fria realidade,
Mas o buril do destino exulta,
As rugas da terceira idade.

A vergonha da nossa cara
Face da máscara insolente,
Aos quatro ventos escancara
A dor que no fundo se sente,

Um fundo falso, rebate,
Pela cor rubro, representa,
Aquela cara de tomate
Que alma fere e adoenta.

A enfastiada insensatez,
De se obliterar a verdade,
Expõe a face, o doblez,
O disfarce da vontade.

Da recalcada consciência,
Aquela expressão consentida,
Dúbia máscara, dúbia existência,
o nosso palco da vida.

Manuel Jorge Monteiro de Lima

UM NADICA DE NADA...


Tento escrever, o vazio de mim,
Freima, inércia, foge de mim o alento!
A inconstância é este mar sem fim,
A confusão instalada como sentimento.

Há muito não escrevo, tudo me amua,
Fui tolhido, as musas de mim esquecidas,
Foram todas, pra face oculta da lua,
O mar do nada, vozes esmaecidas.

Mas de repente uma voz se salienta,
Num ouvido mouco, sensível ao amor,
É a Efigênia! A fada que amansa a tormenta,
E revela a carta náutica, a um cego navegador.

Entre ondas, no marasmo, espuma da vida,
Escuto a sereia, no seu canto sereno,
Acordo a vontade quase adormecida,
Parto pro amor profundo e pleno.

Tiro da minha face esta velha mascara,
Jogo-a no monturo das coisas passadas
Quero purgar o mal pela sagrada cascara,
E só lembrar das coisas belas e amadas.

Enfuno as velas, vou de peito aberto
Na popa do barco panos balançando,
Quero me alhear de qualquer deserto,
Se faltar o vento, sigo e vou remando.

E no mar aberto vou soltar ao vento
Esta percepção de um amor ousado,
Quero sentir a brisa do teu barlavento
No meu peito carente e encandeado.

Manuel Jorge Monteiro de Lima
Alphaville
Terça de carnaval de 2008

ENCONTRO MARCADO

Meu prezado e prestimoso conselheiro
Que sugestão traduzindo um bom alvitre
Definir um espaço, por um princípio ordeiro
Já aceitei, mas no assunto, não dou palpite.

Sou o apedeuta do verso, do verbo efêmero
Sou o escrevinhador barato, um engano ledo,
Quase um amargo purgativo, efeito do êmero
Sou o covarde, só aparências que geram medo.

Então! Vem o amigo Edson, que me acode
A fim de criar, um modo de arquivamento
Agrupar em série, num sistema de blog.
Alguns motes de esvaído sentimento.

Que assim se faça, e me augure a primazia
De aprender essa técnica inteligente
Dite esse prenuncio de dizer à hora, dia
E local do escritório, onde far-me-ei presente.

Para aprender com o Prof. Edson, aulas de erudição,
Porquanto estou ansioso e ávido de aprender
Imagino magna esta audiência e primeira lição
De frutos profícuos e de estórias de embeber.

Manuel Jorge

Novembro'08 anuel Jorge